sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A depressão está associada à transformação de enxaqueca episódica em crónica

A depressão está associada a um aumento de risco de progressão para enxaqueca crónica (mais de 15 dias por mês com crises) em doentes com enxaqueca episódica, de acordo com um artigo publicado em Novembro último no Journal of Headache and Pain. Este estudo recebeu o prémio Enrico Greppi de 2012, patrocinado pela European Headache Federation e Italian Society for the Study of Headaches. A associação é significativa após se terem efectuado os ajustes para variáveis como características sociodemográficas, características das cefaleias, outras comorbilidades, alodínia, uso de antidepressivos e abuso de medicação.
O risco de transformação em enxaqueca crónica também aumenta com a gravidade da depressão, mesmo após ajuste das covariáveis. Os doentes com depressão moderada ou severa têm maior risco de transformação que os doentes se depressão ou com depressão ligeira.
Embora não sejam conhecidos os mecanismos que ligam a cronificação da enxaqueca à depressão, a identificação e o tratamento desta são preconizados. Aguardam-se estudos futuros que permitam determinar se o tratamento da depressão permitirá evitar a cronificação da enxaqueca.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

"Structural brain Changes in Migraine"

Num estudo publicado a 14 de Novembro deste ano no Journal of the American Medical Association (JAMA), verificou-se que as mulheres com enxaqueca (particularmente as com enxaqueca sem aura) têm mais lesões na substância branca profunda do cérebro que as mulheres sem enxaqueca. Apesar do número destas lesões se ter agravado durante os 9 anos em que decorreu o estudo, não houve declínio cognitivo, o que é considerado uma boa notícia. Contudo, parece ser prudente controlar os factores de risco modificáveis para acidentes vasculares cerebrais , como a hipertensão arterial, a hipercolesterolémia e a inactividade física, para além da não utilização de anticoncepcionais orais combinados de dosagem elevada em mulheres com mais de 35 anos.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Cefaleia em Salvas (Cluster Headache)

A Cefaleia em Salvas é uma cefaleia primária, sendo provavelmente a pior dor que os seres humanos podem ter. As mulheres com cefaleia em salvas, afirmam que esta dor é pior que a dor do parto. Imagine-se estas pessoas terem dores de parto uma ou duas vezes ao dia sem anestésico, por períodos de seis, oito ou dez semanas e depois um intervalo livre. Muitos doentes com cefaleia em salvas suicidaram-se, daí esta cefaleia também ser conhecida pela cefaleia assassina. A cefaleia em salvas  tende a ocorrer periodicamente, mas em cerca de 20% dos casos não existem remissões (forma crónica). A causa ainda não é conhecida, afecta cerca de 0,1% da população sendo mais frequente nos homens.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Haverá relação entre enxaqueca e alergias?

Durante a 54ª Reunião Anual da American Headache Society, que se realizou de 21 a 24 de Junho último em Los Angeles, USA, foram apresentados dois trabalhos que puseram em evidência a relação entre rinites e enxaqueca. Os estudos demonstraram que as rinites são mais frequentes em pessoas com enxaqueca, bem como as crises de enxaqueca são mais frequentes e mais graves nas pessoas que têm rinites, alérgicas e não alérgicas. As rinites são a comorbilidade mais frequente nas pessoas com enxaqueca, bastante mais frequente que a depressão. Aguardam-se novos estudos sobre esta relação, que a ser verdade abrirá novas perspectivas terapêuticas para um fenotipo particular de doentes com enxaqueca.

sexta-feira, 1 de junho de 2012


Evidence-based guideline update: Pharmacologic treatment for episodic migraine prevention in adults: Report of the Quality Standards Subcommittee of the American Academy of Neurology and the American Headache Society

Na 64ª Reunião da American Academy of Neurology, que decorreu em Abril passado, em Nova Orleães, foi apresentada a última revisão das Recomendações sobre a terapêutica farmacológica na prevenção da enxaqueca episódica em adultos, uma realização conjunta da American Academy of Neurology e da American Headache Society.
As maiores alterações foram a introdução do topiramato (um neuromodulador, utilizado também no tratamento preventivo da epilepsia) no nível A de evidência (agentes considerados eficazes na prevenção da enxaqueca). A gabapentina (outro neuromodulador), o verapamil e outros antagonistas dos canais de cálcio passaram para o nível U, ou seja, sem evidência sufciente para refutar ou suportar a sua utilização. Nas Recomendações anteriores, publicadas em 2000 o topiramato era de nível B (agentes possivelmente eficazes na prevenção da enxaqueca), pois os dados então disponíveis eram insuficientes.
Um segundo documento analisa separadamente o papel dos anti-inflamatórios não esteróides e das terapêuticas não convencionais na prevenção da enxaqueca episódica em adultos. A “feverfew” (Tenacetum parthanium, em português matricária), a riboflavina ou vitamina B2 e o magnésio, têm continuado a serem estudados especificamente na enxaqueca e mantêm-se no nível B. Surpreendente foi a introdução do “butterbur” (um extracto das raízes da Petasites hybridus) no nível A de eficácia, ou seja, os 3 estudos realizados demonstraram uma eficácia superior deste agente fitoterapêutico a muitos dos medicamentos actualmente prescritos. Isto mostra o espírito aberto e pioneiro dos neurologistas que lutam para obter a melhor evidência possível nesta área terapêutica.
Por fim importa referir que a prevalência da enxaqueca é cerca de 12%, ou seja 1.200.000 de portugueses. Destes, estima-se que cerca de 38% beneficiariam com terapêutica preventiva, mas só 3-13% é que a recebem.